Há lugares que atiçam a nossa curiosidade por serem carregados de lendas e histórias interessantes. Montefiascone, cidadezinha do Lazio, às margens do Lago de Bolsena, é um deles. Pelo menos para mim. E foi por isso que decidimos incluí-la no nosso roteiro pela região.
Montefiascone fica ao longo de um dos percursos da Via Francigena, no trecho entre Siena e Viterbo, o grande caminho de peregrinação que vai até Roma e que coincidia com a antiga Via Cassia romana.
Com uma vista encantadora para o Lago de Bolsena, Montefiascone fica a 590 metros acima do nível do mar, na colina mais alta de Montes Volsini, a apenas 7 km de Viterbo. A cidade remonta à Alta Idade Média, tornou-se uma propriedade da Igreja e importante centro cristão durante o século VII. Graças à sua posição estratégica, Montefiascone foi contendida várias vezes, depois fortificada e defendida pelas tropas do papa Inocêncio III, em 1207.

O que ver em Montefiascone
Se você viaja de Roma para a Toscana (ou vice-versa), por que não aproveitar para conhecer os vilarejos às margens do lago de Bolsena? O mais famoso deles é, sem dúvida alguma, Civita di Bagnoregio, mas Bolsena, Tuscania e Montefiascone também são uma gracinha e merecem um passeio de algumas horas.

Principais atrações de Montefiascone
Igreja de San Flaviano
Sem dúvida, uma das maiores atrações de Montefiascone é a basílica de San Flaviano, na estrada do lago Bolsena.
Ela é uma mistura rica de arquitetura românica e gótica, pois foi construída em 1032. Além disso, ela é muito peculiar porque é uma igreja de dois andares. De fato, essa característica se deve ao fato dela ter sido construída a partir de duas igrejas de Montefiascone sobrepostas.
Nos séculos seguintes após a sua construção, foram adicionados numerosos afrescos, atribuídos à escola de Perugino e Pastoro, um afresco semelhante a Giotto datado do século XIV, bem como afrescos datados dos séculos XV e XVI. Muitos deles ainda estão muito bem preservados.
A entrada de hoje é pela igreja inferior, que tem três naves divididas por colunas com fantásticos capitéis medievais. Ao descer as escadas na parte de trás da igreja, chegaremos a uma impressionante antiga nave romana.
Também é na igreja de San Flaviano que fica o túmulo do famoso Bispo Defuk. Ele morreu deixando dez mil moedas de ouro em caridade, para que a cada aniversário de sua morte, derramassem vinho sobre o túmulo. Além disso, as bordas do travesseiro em seu túmulo têm forma de cálices. Mas a história dele você vai ler mais adiante.
Uma curiosidade: Como disse acima, os capitéis são fantásticos, e ao visitar a igreja não deixe de prestar atenção no capitel da penúltima coluna da direita da nave maior. Nele está esculpida uma figura engraçada, que rege o capitel e puxa a própria barba. Além disso, há uma frase em latim, que traduzida significa “Vocês que estão olhando a igreja, observem também a minha barba”. (!)
Belvedere
Montefiascone provavelmente tem a mais bela vista do lago Bolsena, a qual se pode admirar do chamado Belvedere.
Sem dúvida a vista é linda e nossos olhos se perdem entre o verde das colinas e o azul do lago Bolsena confundido com o do céu. Lá você pode descansar em um banco à sombra, admirando esse panorama incrível de 600m, que é o ponto mais alto de Montefiascone.

Além disso, ali se encontra também um monumento dedicado à Via Francigena. É uma silhueta de metal que ilustra dois peregrinos caminhando.
Catedral de Santa Margherita
A catedral é dedicada a Santa Margarida, que foi martirizada e enterrada em Antioquia no final do século III. No entato, no século X, um peregrino chamado Agostino roubou as relíquias para levá-las para Pavia, sua cidade natal. Durante a viagem de volta, ao longo da Via Francigena, adoeceu e foi forçado a parar em Montefiascone, onde morreu.
Este evento foi interpretado como um sinal de que a santa havia escolhido Montefiascone como um lugar onde suas relíquias deveriam ser preservadas e veneradas. Para isso, uma igreja foi erguida no Colle Falisco, que logo se tornou a mais importante de Montefiascone, tanto a ser elevada a uma catedral em 1369 pelo Papa Urbano V.
Posteriormente, entre os séculos XV e XVII, aconteceu a construção da igreja atual. No entanto, a cúpula, que é uma das maiores da Itália e que se vê de longe, foi construída entre 1670 e 1674.

Roca dei Papi
Montefiascone floresceu na Idade Média em torno de uma rocha fortificada. Dessa forma, nos séculos XIII e XIV proporcionou um refúgio seguro a alguns papas, em particular ao Papa Martin IV, cuja eleição foi contraposta pelos habitantes de Viterbo e que nunca se atreveu a pisar Roma.
A Rocca dei Papi fica no ponto mais alto de Montefiascone, em posição dominante no lago de Bolsena. Seu estado semiabandonado permite apenas imaginar qual foi a sua história extraordinária.
A construção da Fortaleza iniciou em 1207, na área do antigo castelo, pelo Papa Inocêncio III. No entanto, foi o papa Martinho IV quem primeiro escolheu como o lugar como residência papal.
Uma curiosidade: Dante conta no XXIV Canto do Purgatório a paixão que o papa Martinho IV tinha pelas enguias de Bolsena, o qual adorava os pratos feitos com esse peixe.

Apesar das importantes reformas promovidas pelos papas durante o século XVI, no final do mesmo século a ruína do edifício tornou-se irreparável. Então foi aí que começou a progressiva demolição de suas estruturas para a recuperação de material de construção.
No entanto, somente no final do século passado ocorreu a restauração completa das partes que restaram, o que levou à abertura da Roca dei Papi ao público e à criação do Museu de Arquitetura de Antonio da Sangallo.
E a história do bebedor de vinho?
Não é possível falar de Montefiascone e não falar do seu produto principal: o famoso vinho branco “Est!Est!!Est!!!”. Nome curioso, não? Vou contar a história deles para vocês.
Em 1111, Henrique V da Alemanha, o futuro Imperador do Sacro Império Romano, fez uma viagem para Roma para ser coroado pelo Papa Pasquale II. Com ele viajava o bispo Johannes Defuk, excelente conhecedor de vinhos, o qual sempre procurava novos sabores, ou seja, era um enólogo de antigamente. Ele mandava sempre seu empregado Martino saborear e descobrir novos vinhos por onde passavam. Por sua vez, ele escokhia os melhores e os propunha ao bispo.
Em suma , os dois tinham um código a seguir: no momento em que Martino provava um bom vinho, deveria escrever na porta da taverna a palavra ‘EST’, que significa “é” em latim. Mas se o vinho fosse muito bom “EST EST’.
O vinho de Montefiascone
Enfim, quando Martino chegou a Montefiascone e provou o vinho local, ficou tão encantado com a bebida que decidiu imediatamente avisar ao bispo Defuk. Dessa forma, ele escreveu na porta da taverna “EST! EST !! EST!!!”, assim mesmo com muitos pontos de exclamação. Daí o nome do vinho.
Quando o bispo chegou a Montefiascone, provou o vinho e concordou com a opinião do Martino. Assim, ele decidiu prolongar sua estadia na cidade por alguns dias. Posteriormente, depois de sua missão, decidiu voltar e permanecer ali para sempre. Como resultado, dizem que ele morreu por ter bebido em excesso. Será? 🙂
Johannes Defuk foi enterrado na igreja de San Flaviano, onde até hoje é possível ler em seu túmulo a inscrição “Por causa de muito EST! o senhor Johannes Defuk está enterrado aqui”. Juro.

Derramem no meu túmulo um pouco de vinho!
O bispo, como sinal de gratidão para com a cidade que o hospedou, deixou uma boa quantidade de dinheiro para que, desde o dia da sua morte, uma pequena garrafa de vinho fosse derramada em seu túmulo. De fato, esta tradição tem se repetido por vários séculos, tanto que até hoje esse personagem é lembrado com um desfile de fantasia histórico dedicado a ele.
E então, ficou curioso? Você pode provar o vinho branco Est!Est!!Est!!! nos bares e restaurantes de Montefiascone ou Bolsena, mas também pode encontrá-lo nos supermercados de Roma e outras cidades do Lazio. Fora da região, fica mais difícil, mas não custa procurar.
Um evento interessante
De 30 de julho a 15 de agosto acontece a Fiera del vino. Trata-se de uma reconstituição histórica com um desfile de fantasia de mais de 150 personagens, em memória da lenda de Defuk. O desfile é particularmente impressionante. Ele acontece à noite, sob a luz das tochas, ao longo das ruas estreitas do centro histórico.
Durante os dias do Festival também existem outros jogos, danças e shows medievais com portadores da bandeira.

Onde ficar em Montefiascone
Gostaria de passar uma noite em Montefiascone ou usá-la como base para conhecer as cidadezinhas nos arredores? Então veja no mapa algumas opções de hotéis.
Como chegar a Montefiascone
A partir de Roma: Para quem vem de Roma, é necessário primeiro ir a Viterbo e, a partir de lá pegar um ônibus no terminal Riello na Porta Fiorentina (Viale Trento) para Acquapendente / Abbadia San Salvatore ou Valentano / Manciano. Obs: nem todas as viagens para Valentano passam para Montefiascone.
No entanto, se pretende ir de trem via Orte, pode encurtar o tempo e descer diretamente na estação de Montefiascone (localização “Zepponami”). Aí então você pode escolher se deve fazer uma caminhada de 1km em subida ou pegar o ônibus da ItalViaggi (linha 2, veja aqui) para chegar ao centro da cidade.
De carro: É o melhor modo de chegar a Montefiascone e foi o meio que utilizamos. Assim é possível visitar o lago e também parar nas outras cidades. Logo na entrada do centro histórico há uma área de estacionamento e também vagas na rua (faixas azuis). Não é permitido circular de carro dentro do centro histórico. Clique AQUI e faça uma cotação de aluguel de carro. Você pode pagar em Reais e parcelado.