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Altamura, Puglia: dicas do que ver e comer

Tendo planejado uma viagem à Puglia e Basilicata de última hora, acabei ficando sem opções de hotéis em Matera. Foi assim que decidi ficar na cidade ao lado, Altamura, e aproveitei para conhecer a cidade, mundialmente famosa pelo seu pão.

Altamura dista cerca de 20km de Matera e 47km de Bari e quase não entra no roteiro do brasileiro e de muitos turistas que escolhem a Puglia como meta de férias. Mas nós estamos aqui para contar uma outra Itália, aquela menos conhecida.

Por isso, desta vez não se trata de uma localidade com praias cenográficas e mar cristalino, mas sim de uma cidadezinha localizada na região da Murgia, um grande planalto rochoso calcário que cobre uma grande área do centro da Puglia, entre Taranto e Brindisi, e que inclui também parte da província de Matera, na Basilicata.

Altamura é um lugar onde natureza, história, cultura e gastronomia se entrelaçam. Um destino que oferece diferentes e interessantes itinerários culturais e gastronômicos, onde o pão é sempre protagonista. Para vocês terem uma ideia do renome e da importância do pão de Altamura, já no ano 37 a.C., o poeta Horácio afirmou que ali se encontrava “o melhor pão do mundo, tanto que o viajante sábio leva consigo uma quantidade dele na continuação da viagem”.

O pão de Altamura

Um pouco da história de Altamura

Dá para entender facilmente a origem do nome Altamura, que deriva de “altus murus”, ou seja, das muralhas do século VI a.C., que serviam para defesa da cidade.

Altamura ficava em um território muito fértil, rico de campos de trigo, vinhedos e olivais. Por esse motivo, era muito desejada por Taranto, que tentava conquistar todo o território. Além disso, Altamura tinha três faixas de muralhas: primeiramente a externa, de origem megalítica, imensa. Depois a do meio (que hoje não existe mais) e, por fim, a interna, que atualmente circunda o centro histórico. Todas as três coincidiam na porta Matera.

Com a crise do Império Romano, a cidade foi sendo aos poucos abandonada. Foi somente no século XIII, durante o reinado de Frederico II, rei das Duas Sicílias (a Puglia também fazia parte do reino), que a cidade voltou a se povoar. De fato, Frederico II é considerado o re-fundador de Altamura. Quando o imperador, no século XII, subiu a colina de Altamura, a cidade havia sido destruída pelos sarracenos. Então ele decidiu reconstruí-la.

Posteriormente, após a reconstrução e repovoamento da cidade, ele a chamou de Altamura. Em 1232 ele ordenou a construção da grande catedral.

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O que ver em Altamura

Sem dúvida, um dia inteiro dá para visitar Altamura. Eu passei duas noites lá, mas um dos dias foi todo dedicado à visita de Matera. Desse modo, no tempo restante, deu para conhecer com calma tudo que a cidade tem a oferecer.

Além de um passeio no centro histórico, vale a pena também conhecer o museu arqueológico e outros lugares nas redondezas…

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Corso Federico II

O Corso Federico II é, digamos, a rua principal do centro histórico de Altamura e o atravessa completamente, da Porta Bari à Porta Matera. De fato, a rua é repleta de bares e lojas e onde a população passeia nos fins de tarde. Notei, inclusive, crianças brincando sozinhas ou passeando com coleguinhas. Há tempos que eu não via isso!

A Porta Matera

 

Você pode percorrer a inteira rua, indo de uma ponta à outra, observando os lindos palácios. Além da catedral, da qual falarei a seguir, há também uma outra interessante igreja, dedicada a San Nicola dei Greci. Ela também foi construída por ordem de Frederico II, mas reconstruída no século XVI. Lá eram celebradas missas seguindo o ritual grego.

A igreja de San Nicola dei Greci, em Altamura.

 

A Catedral de Santa Maria Assunta

A Catedral de Altamura, dedicada a Santa Maria Assunta (Nossa Senhora da Assunção), foi construída por Frederico II entre 1232 e 1254. Em parte destruída, provavelmente por um terremoto, foi reconstruída em 1316.

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Certamente é um belo conjunto arquitetônico e denota leveza e agilidade. Seu estilo consiste em um conjunto de elementos arquitetônicos tão bem coordenados entre si, que oferecem uma beleza harmoniosa e unitária.

Na parte externa é possível admirar o portal, ladeado por dois leões do século XVI, as duas grandes torres do sino e, no meio, uma magnífica rosácea.

O lindíssimo portal da Catedral de Altamura, considerado um dos mais imponentes da Puglia.

 

O interior tem uma decoração do século XIX, mas apresenta ainda a estrutura original com as colunas finas das naves, os preciosos capitéis e as ricas esculturas que coroam todas as portas e janelas.

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Os claustros e vielas

Basta um rápido passeio pelo centro histórico de Altamura para que a gente se dê conta que a parte antiga tem uma forma muito peculiar, cheia de becos que lembram bairros árabes, outros em estilo grego. A particularidade destes becos é que alguns terminam em pátios bem mantidos pelos habitantes, repletos de plantas e flores.

Antigamente esses claustros se tornavam verdadeiras escolinhas, onde as professoras eram as mulheres mais velhas do cortiço, que ensinavam as meninas a fazer os diversos tipos de macarrão e a costurar.

 

Os fornos e padarias tradicionais

No centro histórico de Altamura restam ainda três padarias históricas, onde é possível degustar o famoso pão da cidade. Eu visitei o Antico Forno Santa Chiara, que é datado de 1423. É um dos primeiros fornos públicos de Altamura, utilizados para assar o pão típico.

 

Dentro da padaria há um imenso forno a lenha onde as pessoas podiam levar o próprio pão feito em casa para assar. As mulheres deixavam o pão “na fila” e voltavam mais tarde para pegá-lo, já pronto.

Hoje em dia, as padarias viraram verdadeiras atrações turísticas.  possível comprar todos os produtos típicos de forno da região.

Além do Forno Santa Chiara, há também o Panificio Fratelli di Gesù e o Forno Antico Santa Caterina.

Endereços:

  • Forno Santa Chiara: Via Luca Martucci
  • Panificio Fratelli di Gesù: Via Pimentel, 17
  • Forno Santa Caterina: Via Ambrogio del Giudice, 2

 

Moinho Dibenedetto

Quando estava planejando meu roteiro em Altamura, encontrei várias referências sobre o moinho artesanal Dibenedetto. Dessa forma, decidi visitá-lo.

O moinho fica um pouco fora do centro histórico (10 minutos a pé) e produz vários tipos de farinha, tanto de trigo quanto de outros grãos.

Entrando lá, fui recebida pelo proprietário em pessoa, o Sr. Mario. Logo na entrada há uma lojinha com vários tipos de macarrão e de farinhas. Eu me aproximei do Sr. Mario e perguntei se ele podia me contar um pouco da história do moinho, porque havia lido ótimas avaliações sobre o lugar. Ele simplesmente começou a me contar toda a história do lugar, fundado pelo avô dele no início dos anos 50.

As máquinas originais dos anos 50.

 

Chegaram outros clientes e se uniram a nós, ouvindo o modo apaixonado como o Sr. Mario contava a história do lugar. Ele também falava do quanto é difícil sobreviver em um mundo onde os produtos industrializados vendidos a preço muito baixo dominam o mercado.

Além de contar a história do moinho, ele ainda explicou todo o processo de produção das farinhas, os diferentes tipos, os grãos utilizados e os malefícios que as farinhas refinadas utilizadas em boa parte dos produtos industrializados nos trazem.

 

A maior parte do trigo utilizado é do tipo Senatore Cappelli, uma antiga variedade de trigo duro. Descrito como “raça escolhida” nos anos 30 e 40, ele foi, por décadas, o mais cultivado no sul da Itália, sobretudo na Basilicata e na Puglia.

De fato, é considerado um trigo de grande prestígio e valor, porque não sofreu alterações de técnicas modernas e manipulação genética. Por isso ele tem ótimos sabor e conteúdo nutricional, sendo inclusive um trigo de alta tolerabilidade.

Informações:

O moinho Dibenedetto abre de segunda a sexta, das 8 às 13h e das 15 às 19h. Aos sábados abre somente pela manhã.

 

O homem de Altamura

Em 1993, durante a exploração de uma caverna chamada Gruta de Lamalunga, nos arredores de Altamura, alguns espeleólogos encontraram um esqueleto incorporado na formação de calcário. Após uma pesquisa muito minuciosa, foi confirmado que se tratava dos restos perfeitamente preservados de Homo sapiens neanderthalensis (que datam do período paleolítico médio, cerca de 200.000 anos atrás): único caso de esqueleto humano paleolítico. Ele foi apelidado de Homem de Altamura.

A esta grande descoberta foram dedicados dois espaços em Altamura: um é o Centro Studi Lama Lunga, que dispõe de um pequeno museu e onde é reproduzido um video em 3D sobre o homem de Altamura.

O outro lugar é o Museu Arqueológico, onde há uma série de achados que remontam ao período entre os séculos VIII e V a.C.

Mas a verdadeira atração do museu é uma reprodução bem realista do homem de Altamura feitas pelos artistas holandeses Adrie e Alfons Kennis. De fato, trata-se de um modelo em escala real (1,60m de altura), com cabelo, barba e bigode. Impressionante!

A reprodução do homem de Altamura em exposição no museu arqueológico.

 

Informações:

  • Centro Studi Lama Lunga (Via Madonna Buoncammino). Funciona de terça a domingo, das 9 às 13h e das 14h30 às 18h. Ingresso: 2,50 euros
  • Museu Arqueológico de Altamura (Via Santeramo, 88). Funciona de segunda a sexta, das 9 às 13h e das 14h30 às 18h. Sábados, domingos e feriados, somente pela manhã.

 

O que comer em Altamura

Não tem só pão para comer em Altamura! Ok, tem bruschetta, pão com azeite, pão torrado, pão com geléia… mas não só!

Por exemplo, um doce típico é a “tetta di monaca” (seio de freira!), um bolinho macio recheado com creme chantilly.

 

Tetta di monaca e chocolate quente! Uma combinação perfeita.

 

Ainda, para quem não teme o alto teor alcoólico, um licor digestivo renomado é o Padre Peppe (feito com nozes) cuja receita é atribuída a um frade do século XVII, daí o nome. É muito, muito forte. Não consegui tomar mais que um gole!

Além disso, nos restaurantes você encontrará pratos com cogumelos cardoncelli, produtos típicos da Murgia, deliciosos e carnosos. O planalto da Murgia oferece também o melhor cordeiro da região, que é o destaque da gastronomia de Altamura. Ele pode ser preparado de várias maneiras: assado e temperado com ervas e vegetais silvestres, tais como erva-doce, a chicória, cardoncelli e cebolas. Outro produto delicioso, que fiz questão de provar, foram as linguiças. Elas não preparadas com carne moída, mas picadinhas com a faca. De fato, é uma especialidade de açougueiros locais.

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Onde ficar em Altamura

Eu me hospedei no Dimora Santa Chiara, uma pousada muito charmosa em pleno centro histórico. Recomendo! Veja abaixo outras opções:



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Como chegar a Altamura

De trem: Há um serviço de trens locais da Ferrovia Appulo Lucane que liga Altamura a Bari e a Matera. Veja horários e tarifas aqui.

Carro: Clique AQUI e faça uma cotação de aluguel de carro. Você pode pagar em Reais e parcelado.

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